O mal como experiência humana

       As reflexões sobre o conceito mal, ao longo da história da Filosofia da Religião, teve uma atribuição fortíssima à argumentos contra a existência de Deus. A filosofia analítica, no pensamento sobre o mal, como um problema lógico ou como um problema evidencial, constrói narrativas nessa direção. E também, filósofos como Hume(em Diálogos sobre a Religião Natural), Tomás de Aquino(em  cinco vias na Suma Teológicas), e o antigo Epicuro de Samos(com o dilema lógico do problema do mal, atribuído ao filósofo), construíram pensamentos em direções semelhantes acerca desse conceito.

       Algumas ideias posteriores surgiram como possíveis soluções para a existência do mal e de um mundo com Deus. Uma bastante conhecida é a do filósofo Alvin Plantinga, em God, Freedom and Evil(1974), que faz uma defesa do livre-arbítrio como uma explicação do porquê o mal existe no mundo, sem que isso aponte para a não existência de Deus.

       Em geral, o conceito de mal se desenvolve em diferentes linhas do pensamento filosófico e  existem variadas formas de entendê-lo. É possível lançar-se sobre as discussões de um mal metafísico, como a privação do bem,  de um mal como realidade em si mesmo ou que existe independentemente do bem, etc.

       O professor Agnaldo C. Portugal  propõe, na Palestra em questão, que o conceito de mal seja compreendido em termos de uma experiência humana básica, ou seja, um entendimento do o mal como um tipo de percepção ou emoção humana. Nesse sentido, é preciso assumir que, mesmo diante das variações possíveis desse tipo de percepção, o mal ainda é algo básico da experiência humana, faz parte do modo como os seres humanos percebem certos estados de coisas ou ações. Apoiado na tese de que há emoções realmente básicas e negativas, como medo, aversão, raiva ou tristeza, entende que “ser humano significa, entre outras coisas, perceber determinados eventos como maus”.

       Essa visão não se compromete com a realidade do mal em si, mas sugere uma abordagem nova no campo da Filosofia da Religião e se apresenta como uma alternativa  aos conceitos de mal que figuram parte de arugumentos contra a existência de Deus, pois o conceito proposto também não está comprometido com essa questão.

       Por fim, Agnaldo destaca dois três pontos: Esta conceituação não destoa da concepção de religião “como resposta a uma experiência, tanto do sagrado quanto do profano”, a partir dela é possível explorar conexões com outras áreas, como a ciência, a política ou a arte e, finalmente, é possível “explorar a possibilidade de que o mal, ao invés de levar ao abandono da religião e à descrença, faz o contrário em muitos casos”.

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