Prof. Dr. Agnaldo Cuoco Portugal, UnB (Dep. de Filosofia)
Prof. Dr. Wanderson Flor do Nascimento, UnB (Dep. de Filosofia)
Parte 1
O Candomblé e o conceito de mal: Um conceito de religião que abrange a diversidade da experiência religiosa:
O Professor Agnaldo apresentou na Aula Aberta que, a inclusão de outras religiões pode trazer interessantes contribuições para as reflexões nesse campo filosófico. O professor procura expandir essa temática religiosa, através de reflexões sobre o Candomblé. Há cinco pontos fundamentais na sua exposição:
• A renovação e o restabelecimento do axé: A realidade, tal como é entendida pelo Candomblé, possui duas dimensões, uma espiritual (orum) e outra terrena(aiyê): O candomblé teria nascido de uma ruptura entre as duas dimensões e tem como foco, a buca pela religação entre elas, por meio de atividades que possam manter o contato entre os seres humanos e os orixás.
• O candomblé surge no contexto da diáspora africana moderna e é uma religião de resistência à violência.
• Uma das principais contribuições que o Candomblé pode fazer ao campo da Filosofia da Religião está na própria definição de religião.
• A religião pode ser entendida como resposta à experiencia do transcendente e também à experiência do mal. E o Candomblé pode ajudar no entendimento do mal como “elemento motivador na raiz da experiência religiosa humana em geral”.
• Uma definição de mal: “a experiência negativa expressa em emoções universalmente observáveis na nossa espécie”.
Partindo disso, o prof. Agnaldo apresenta um conceito de religião com dois níveis, que pode mostrar uma interessante contribuição de outras religiões, não abraâmicas, à Filosofia da Religião e, abranger a diversidade do fenômeno religioso.
1.”A religião é uma atividade humana em resposta à experiência do Ser (compreendido como manifestado de modo especial, ou seja, em contraste com a experiência comum, como transcendente a ela) e à experiência do mal.”
2.“Essa atividade humana se apresenta na forma de cultos, preces e cantos, objetos sagrados, experiências místicas, comunidades de culto, autoridades institucionais, espaços sagrados, calendário festivo, escrituras e narrativas míticas”.
Confira o resumo completo no nosso site(link na bio).
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PARTE 2
Em resposta às definições de religião do Prof. Agnaldo:
1.”A religião é uma atividade humana em resposta à experiência do Ser (compreendido como manifestado de modo especial, ou seja, em contraste com a experiência comum, como transcendente a ela) e à experiência do mal.”
• Muitas práticas religiosas africanas e o próprio candomblé podem ser lidas como uma atividade humana em resposta à experiência de Ser, mas não necessariamente esta é desvinculada à experiência comum. O rito, por exemplo, é uma representação de uma divisão temporal e que pode ser realizado no terreiro, mas também dentro do cotidiano dos candomblecistas.
• A resposta à experiência do Mal dependerá da definição de divindade para essas religiões. No pensamento africano, há tanto uma recusa na associação comum entre alguns autores de Olorum ou Olodumare a Deus, quanto há também uma defesa dessa imagem teísta como um modo de entender que Olodurare poderia ser o criador do bem e do próprio mal.
2.“Essa atividade humana se apresenta na forma de cultos, preces e cantos, objetos sagrados, experiências místicas, comunidades de culto, autoridades institucionais, espaços sagrados, calendário festivo, escrituras e narrativas míticas”.
• Uma “comunidade de culto”, pode ser ampliada para uma comunidade existencial, que se expressa no cotidiano dos candomblecistas. É possível mesmo pensar que existe uma anterioridade ontológica, na qual a comunidade se aplica antes do indivíduo e que a estrutura dessa comunidade também pode ser pensada a partir dos elementos desse indivíduo.
• A própria noção de comunidade, se pensada a partir da visão do terreiro, não se resume ao humano, mas abarca outros modos de humanidade, encarnados pelas plantas, pelos bichos, pelos tambores, etc; além de ser habitada por divindades e pelos mortos.
• Uma reflexão colocada pelo Prof. Wanderson é em relação ao tipo de “instrumentos/ métodos” que dispomos para estudar essas atividades: Por exemplos, “Como mobilizar linguagens que não suponham um fundo metafísico binário? Como pensar em categorias que não setorizem de maneira definitiva, camadas como os “objetos sagrados”[…]?”.